Chico Xavier

* 02/04/1910
30/06/2002

Francisco Cândido Xavier, mais conhecido por Chico Xavier, considerado o médium do século e o maior psicógrafo de todos os tempos, nasceu em Pedro Leopoldo, pequena cidade do estado de Minas Gerais, Brasil, no dia 2 de abril de 1910.

Filho de um operário pobre e inculto, João Cândido Xavier, e de uma lavadeira chamada Maria João de Deus, falecida em 1915, quando o filhinho contava apenas com cinco anos de idade. Nesta altura, Chico tinha mais oito irmãos, tendo todos sido distribuídos por vários familiares e pessoas amigas. Como órfão de mãe em tenra idade, sofreu muito em casa de pessoas de precária sensibilidade.

Aos nove anos, seu pai, já casado novamente, empregou-o como aprendiz numa indústria de fiação e tecelagem. De manhã, até às 11 horas, frequentava a escola primária pública, depois trabalhava na fábrica até às 2 horas da madrugada. Aprendeu mal a ler e a escrever. Quando concluiu o pequeno curso da escola pública empregou-se como caixeiro numa loja e mais tarde como ajudante de cozinha e café.

Em 1933 o Dr. Rômulo Joviano, administrador da Fazenda Modelo do Ministério da Agricultura, em Pedro Leopoldo, deu ao Jovem Xavier uma modesta função na Fazenda e lá se tornou um pequeno funcionário público em 1935, tendo trabalhado consecutivamente até finais dos anos cinquenta, altura em que foi aposentado por invalidez (doença incurável nos olhos), com a categoria de escrevente datilógrafo.
Não podemos deixar de registrar, sob pena de cometermos grave omissão, que durante as décadas que esteve a serviço do Ministério da Agricultura, jamais – não obstante a sua precária saúde e trabalho doutrinário, fora das horas de serviço – teve uma única falta ou gozou qualquer tipo de licença, conforme documentos facultados pelo M. A.

Em finais da mesma década de cinquenta, vai residir em Uberaba – MG, por motivos de saúde e a conselho médico, onde permaneceu, e apenas com a sua magra reforma (aposentadoria).

As suas faculdades mediúnicas eram extraordinárias; sua mediunidade (capacidade natural de ser intermediário entre o plano material e o plano espiritual) manifestou-se, quando tinha quatro anos de idade, pela clarividência e clariaudiência, pois via e ouvia os Espíritos e conversava com eles sem a mínima suspeita de que não fossem homens normais do nosso mundo.

Já como jovem e depois como adulto, muitas vezes não diferenciava de imediato os homens dos Espíritos. Aos cinco anos, já órfão de mãe, esta se manifestou várias vezes junto dele encorajando-o e dizendo-lhe que não poderia ir para casa porque estava em tratamento, mas que enviaria um bom anjo que juntaria novamente a família. Esse bom anjo foi a Dona Cidália, a segunda esposa de João Xavier, que para casar com o seu pai fez questão de reunir todos os filhos do primeiro casamento, e lhe daria depois mais cinco irmãos.

Quando tinha 17 anos, fundou-se o Grupo Espírita Luiz Gonzaga , onde rapidamente desenvolveu a psicografia, isto é, a faculdade de escrever mensagens dos Espíritos. Época em que se desligaria da Igreja Católica onde deu os primeiros passos na espiritualidade, mas onde não encontrava explicação para os fenômenos que se passavam com ele, designadamente a perseguição de espíritos inferiores de que era alvo. O padre que o ouvia nas confissões foi um conselheiro, um verdadeiro pai e não o dissuadiu do caminho que iniciou no Espiritismo, mas abençoou-o e nunca deixou de ser seu amigo.

No centro espírita começou a psicografar poemas notáveis de famosos poetas mortos, num nível literário tão elevado que os próprios companheiros do grupo não conseguiam atingir integralmente o seu conteúdo. Muitos desses poetas eram totalmente desconhecidos do meio, nomeadamente alguns portugueses: Antônio Nobre, Antero de Quental, Guerra Junqueira e João de Deus.

Em 9 de julho de 1932, seria publicada a célebre PARNASO DE ALÉM-TÚMULO , a sua primeira obra psicografada que iria abalar os meios intelectuais do Brasil e tornar conhecida a pacata Pedro Leopoldo. O estilo dos 56 poetas mortos, entre os quais vários portugueses, era precisamente idêntico ao estilo dos mesmos enquanto vivos, informavam os literatos das academias e universidades dos grandes centros culturais do Brasil, embora não soubessem explicar o fenômeno. Seria o início da sua imponente obra mediúnica, que ultrapassou 400 livros.

Bastava apenas um desses livros para constituir um roteiro seguro para o homem na Terra rumo à sua alforria, à sua felicidade. Seus ensinamentos revivem plenamente o Evangelho de Jesus e as lições do Consolador que Kardec – o discípulo fiel de Jesus – nos legou com tanto sacrifício e renúncia.

Mais de mil entidades espirituais nos deram informações através das suas abençoadas mãos, provando à saciedade a imortalidade do Espírito e a sua comunicabilidade com os homens. Mas falar de Chico Xavier é falar de Emmanuel que, indelevelmente, estará ligado à sua missão. Esse venerando Espírito é o seu protetor espiritual e manifestou-se-lhe pela primeira vez de forma ostensiva em 1931, acompanhando-o desde então até o seu desencarne em 2002. A respeito desse Benfeitor espiritual nos disse o próprio médium:

Lembro-me de que num dos primeiros contatos comigo, ele me preveniu que pretendia trabalhar ao meu lado, por tempo longo, mas que eu deveria, acima de tudo, procurar os ensinamentos de Jesus e as lições de Allan Kardec, e disse mais: que se um dia, ele, Emmanuel, algo me aconselhasse que não estivesse de acordo com as palavras de Jesus e Kardec, que eu devia permanecer com Jesus e Kardec, procurando esquecê-lo.


Emmanuel propõe ainda ao jovem Xavier mais três condições para com ele trabalhar: 1ª condição, DISCIPLINA; 2ª condição, DISCIPLINA; 3ª condição, DISCIPLINA.

Entre as muitas dezenas de obras mediúnicas de Emmanuel, destacamos os cinco documentos históricos, retirados dos arquivos do plano espiritual, que constituem autênticas obras primas de literatura, e que nos mostram o nascimento do cristianismo e a sua paulatina adulteração logo nos primeiros séculos da era. São os romances mediúnicos baseados em fatos verídicos: HÁ DOIS MIL ANOS (a autobiografia de Emmanuel, na história do orgulhoso senador romano Públio Lentulus); 50 ANOS DEPOIS; AVE, CRISTO; RENÚNCIA; e PAULO E ESTEVÃO (a história de um coração extraordinário, que se levantou das lutas humanas para seguir os passos do Mestre, num esforço incessante ). Esta última obra, de 553 páginas, por si só justificaria a missão mediúnica de Chico Xavier, segundo o erudito J. Herculano Pires.

Em 1943 começara a utilizar a mediunidade do abnegado médium uma nova entidade espiritual que assinara as suas mensagens com o nome André Luiz. André Luiz é o pseudônimo utilizado por um espírito que foi médico e cientista na sua última existência e que desencarnou numa clínica do Rio de Janeiro pelo início da década de trinta. É considerado o verdadeiro repórter de além-túmulo. Relata-nos numa série de 11 livros a experiência do seu passamento, as dificuldades iniciais, o reencontro com familiares e conhecidos que o precederam na partida para o plano espiritual, a observação e as expedições de estudo junto de Espíritos de elevada evolução. Esses relatos começam com o já célebre livro NOSSO LAR (nome de uma cidade do plano espiritual), hoje traduzido em vários idiomas, entre eles o Japonês e o Esperanto, e que já passou de 40 edições só em Português. Obra que também iria causar e ainda causa alguma polêmica.

Nessa série de reportagens, a alma humana é profundamente escalpelada, e onde se confirmam na prática os ensinamentos que Jesus nos legou há dois milênios e que Kardec relembra e amplia tão bem sob orientação do Espírito de Verdade.

A obra monumental de Chico Xavier – que se considerava, segundo suas próprias palavras, “um servidor humilde”, no sentido da desvalia pessoal – jamais serviu para beneficiar materialmente a sua pessoa. Todos os direitos autorais foram cedidos graciosamente a instituições espíritas, nomeadamente à Federação Espírita Brasileira, e a instituições de solidariedade social.

Quando as autoridades públicas lhe concediam títulos de cidadania (mais de cem lhe foram concedidos) dizia que o mérito não era para ele, mas para os Espíritos e, sobretudo para a Doutrina Espírita que revive os ensinamentos de Jesus na sua plenitude, e que ele não passa de um poste obscuro para a colocação do aviso de que a Doutrina Espírita foi premiada com essas considerações públicas.

Há que se registrar também que várias centenas de instituições de solidariedade social foram criadas e inspiradas no seu exemplo e obra: orfanatos, escolas para os pobres, lares de deficientes, sopas dos pobres, campanhas do quilo, ambulatórios médicos, alfabetização de adultos, bibliotecas etc.

Antes de encerrarmos estas notas gostaríamos de registrar ainda o seu ponto de vista em relação às outras doutrinas, filosofias e ideologias, aliás, que é o do próprio Espiritismo, mas passemos-lhe novamente a palavra:

Nosso amigo espiritual, Emmanuel, nos aconselha a respeitar crenças, preconceitos, pontos de vista e normas de quaisquer criaturas que não pensem como nós, mas adverte-nos que temos deveres intransferíveis para com a Doutrina Espírita e que precisamos guardar-lhe a limpidez e a simplicidade com dedicação sem intransigências e zelo sem fanatismo.